sábado, 16 de junho de 2007

“VAVÁ E A UNHA ENCRAVADA” fechou a questão como ninguém:O Vavá, se acha inocente. O que aconteceu com ele foi, simplesmente, receber a graça de ter um irmão presidente da República. Ganhou na loteria. O que ele faz com o prêmio é problema dele, ninguém tem nada com isso.É por aí que, pelo visto, está indo a estratégia da defesa de Vavá. Um homem rude, sem o menor preparo para ser lobista, apenas movendo-se para lá e para cá, meio pimpão, com o crachá de irmão do presidente. Pobre Vavá.Um homem sem a sofisticação de um Marcos Valério, para criar um duto atravessando empresas estatais, bancos privados, partidos políticos e governo. Vavá não tem a menor possibilidade de montar um esquema milionário. Como bem traduziu a Polícia Federal, quando ele pede “dois milhão” a um empresário picareta, está querendo dizer só “dois mil”.Um homem primário, boa gente, como definiu Frei Betto (na esquerda todo mundo é boa gente), meio parado no tempo em que a moeda tinha muitos zeros à direita. Enfim, um sujeito que não faz mal a ninguém. A mensagem é mais ou menos esta: deixem o Vavá desencravando umas unhas por aí, e toquem a vida em frente.“Desencravar uma unha” é expressão consagrada por Delúbio Soares, o famoso (e meio esquecido) ex-tesoureiro do PT. Como se sabe, Delúbio nunca foi um PC Farias. PC tomava dinheiro de Deus e o mundo em nome de Collor, e seu argumento era a intimidação. Delúbio tomava dinheiro de Deus e o mundo em nome de Lula, e seu argumento era a revolução.Pego em flagrante, Delúbio foi logo acusando a conspiração da direita contra o governo popular. Sentia-se um mercador da ética, portanto aquilo não podia ser corrupção. Como relataram vários de seus “clientes” (ou vítimas), Delúbio falava sempre em desencravar uma unha, isto é, resolver um probleminha aqui, outro ali, e deixar a pista livre para a revolução passar.Talvez seja por conta desse verniz romântico que a corrupção no governo Lula nunca trouxe problema para ninguém. Já com seu Land Rover na garagem, Silvinho Pereira ainda tinha dúvidas se era merecedor daquele presentinho ou não, segundo o próprio explicou à CPI. Eis a nova moral nacional: os primários, os bem-intencionados e os revolucionários não cometem crimes. Eles apenas têm dúvidas, desejos e unhas encravadas.Que mal há em Vavá negociar com o chefe da máfia de caça-níqueis em nome do presidente da República? Nenhum. É só um homem ignorante que não conhece a fronteira entre pessoas e instituições, entre o que é da família Silva e o que é da República Federativa do Brasil. Deixem-no em paz.E se Vavá amanhã criar uma agência privada de empregos públicos, ou um salão para desencravar unhas legais de contrabandistas de caça-níqueis, ninguém deverá censurá-lo. Ele estará apenas fazendo exatamente o que faz hoje: aproveitar a sorte de ser irmão do presidente da República. E de nunca ter sido desautorizado por ele.

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